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terça-feira, 20 de junho de 2023

O ETERNO DEVIR DA HISTÓRIA POLÍTICA PORTUGUESA

Segundo Engels e Marx, a história repete-se sempre, pelo menos duas vezes. A primeira como tragédia, a segunda como farsa. Ou então, mais prosaicamente, há coisas que não mudam nunca, seja o estado de permanente convulsão e os complexos de esquerda do PPD/PSD, seja o oportunismo cínico do PS. Devem ser eflorescências do materialismo dialéctico.

“Em Julho e Agosto [de 1974] (…) os elementos da Comissão Política percebiam tudo o que ainda lhes faltava fazer: “Necessidade de conquistar votos ao centro,; necessidade de afirmar publicamente a ideia da social-democracia; necessidade de ocupar efectivamente o lugar de centro-esquerda, que é o lugar próprio do PPD, impedindo assim o arrastamento do PS em direcção ao PCP; necessidade de implantar e enraizar solidamente o partido; necessidade de aperfeiçoar os contactos com os centro de decisão política; necessidade de adaptar a estrutura à dinâmica do partido; necessidade de antecipação política; necessidade de apontar claramente para opções políticas concretas; necessidade de começar uma intensa campanha de otenção de adesões ao partido; necessidade de criar impacto na opinião pública por meio de uma campanha maciça através de órgãos políticos.”

(…) quase todas as pessoas que enchiam o Pavilhão dos Desportos [em 23 de novembro de 1974] estavam desejosas de ouvir propostas de esquerda mais radicais. Houve apelos “à construção de uma sociedade socialista”, críticas aos “vícios do sistema capitalista”, pedidos de “socialização dos meios de produção”, declarações de apoio a um sistema de planificação da economia e e explicações sobre a inevitabilidade de uma política de nacionalizações – no final, todas estas medidas passariam a fazer parte, “por aclamação”, do programa do PPD.

(…) quem iria a um comício em Évora, onde se previa que houvesse distúrbios, provocados pelo PCP, e Emídio Guerreiro [à data com 76 anos, viria a morrer com 105] voluntariou-se. Mais: ofereceu-se para realizar uma acção espectacular, que deixaria os adversários paralisados. Iria de helicóptero e saltaria de para-quedas directamente na praça onde se realizava o comício. [Não foi, que pena!]

Emídio Guerreiro [o mesmo] explicou o que lhe ia na cabeça. Acreditava por exemplo que a social-democracia era apenas uma via para a sociedade sem classes e para a abolição da propriedade privada dos meios de produção. E achava que os problemas da União Soviética se deviam aos desvios de Estaline porque Lenine era um homem com muitas qualidades

No dia 20 [de Novembro de 1975] [os deputados do PPD, do PS e do CDS] aprovaram uma moção na Assembleia Constituinte a anunciar “ser sua intenção reunir, nos termos regimentais, em qualquer momento e em qualquer lugar, de tanto for necessário para o integral cumprimento do seu mandato”.
O [VI] governo [provisório] tomou a decisão contrária – em vez de fazer tudo para continuar a funcionar, optou por paralisar. Às 4h da madrugada de 20 de Novembro [de 1975], depois de uma reunião de emergência do Conselho de Ministros que se prolongou por 6 horas, anunciou que entrava em greve. 
(…) Pinheiro de Azevedo explicou aos jornalistas de forma mais prosaica: “Estou farto de brincadeiras, ok? Já fui sequestrado duas vezes. Já chega! Não gosto nada de ser sequestrado, percebem? Chateia-me ser sequestrado.”

(…) Mário Soares, o primeiro-ministro socialista, nunca aceitaria uma partilha de poder e continuaria a usar os sociais-democratas para aprovar algumas leis avulsas no parlamento, tratando o PSD como se fosse um criado sempre disponível.

Não havia nada a esperar dos socialistas. “O PS tolera-nos porque precisa de nós e enquanto de nós necessitar.”

Todas as transcrições são do livro Sá Carneiro, de Miguel Pinheiro, com excepção das precisões que constam entre parênteses rectos

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