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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

15.02.2021


 

            Que poderei do mundo já querer,

            Que naquilo em que pus tamanho amor,

            Não vi senão desgosto e desamor,

            E morte, enfim; que mais não pode ser?

 

            Pois vida me não farta de viver,

            Pois já sei que não mata grande dor,

            Se cousa há que mágoa dê maior,

            Eu a verei; que tudo posso ver.

 

            A Morte, a meu pesar, m’assegurou

            De quanto mal me vinha: já perdi

            O que a perder o medo m’ensinou.

 

            Na vida desamor somente vi,

            Na morte a grande dor que me ficou:

            Parece que para isto só nasci.

                                    (Luís de Camões)

Dois anos sem ti, dois anos de ausência, dois anos de irrealidade e tristeza, dois anos a buscar razão para seguir o meu caminho. E todos os dias, a pegunta, sibilina - que faço aqui, se partiram aqueles que amei e mais me amaram, deixando-me órfã? E, mesmo agora, em que a vida parece ganhar algum sentido, há a sombra, aquela que, sem direito nem título, insidiosa e indelevelmente, me ocupou e habita, e me roubou a luz do Sol que tanto amo.

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