Num
mundo polarizado, que tem como batalhas principais o cancelamento de ideias, a
queima de livros, a reescrita da História e a criminalização do delito de
opinião, o homónimo Delito de Opinião é um blog de leitura obrigatória que sigo
desde a respectiva criação. Os autores escrevem bem e, quase sempre, com
pertinência, elegância e, alguns deles, com muito humor, às vezes fino, às
vezes britânico, outras vezes, simplesmente, humor.
Revejo-me
nas entradas do Pedro Correia, que é com certeza da minha geração e terá mais
ou menos a minha idade. A sua família e a sua educação terão sido equivalentes
às minhas, as leituras de sua casa seriam similares às que se faziam por minha
casa, quis a vida que sejamos actualmente depositários das bibliotecas que um
dia pertenceram aos nossos progenitores.
Reproduzo
a entrada de hoje, que me tocou especialmente. Na verdade, o mundo seria um
lugar infinitamente melhor se cada um dos seus sete biliões de habitantes tentasse
apenas aperfeiçoar-se – melhorando dentro daquilo que é, já que mudar, mudar,
ninguém muda. É só ver os magníficos exemplos que a História nos dá de
luminárias que quiseram mudar o mundo, a sociedade e os seus semelhantes – normalmente
contra a vontade destes, pormenor insignificante para as ilustres luminárias. ´
Num
testemunho dado ao Público em 2004, no âmbito duma reportagem sobre ex ML da
década de 70, em que se incluíam muitas, tantas pessoas conhecidas das elites
portuguesas, de então e de agora, Pedro Baptista, dirigente dum grupo maoista-ml
que grassou no Porto dos anos 70 do século passado, e que entretanto foi respirar
melhores ares, habitar melhores lugares e privar com melhores pares, disse, mais
ou menos, isto “queríamos mudar o mundo, felizmente não conseguimos, senão o
mundo ter-se-ia tornado num lugar horrível”.
À
atenção das elites actuais que acham que, por lei, podem mudar o mundo, a sociedade e os seus semelhantes. Ainda
por cima, ao contrário daquela geração de gente aguerrida, ainda que pouco
recomendável, os de agora são uns burgueses insuportáveis, pouco dados a estudos e aprofundamentos, porque arrogantemente portadores de
títulos de especialistas, tão especialistas que uma lei de má fama que tentam
fazer aprovar há uns quatro anos já sofreu um veto de bolso e duas declarações
de inconstitucionalidade.
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