Ser belo foi a sua primeira qualidade.
Era,
de facto, o homem mais belo que alguma vez vira, fiquei caída por ele no dia em
que o conheci, um rosto de linhas clássicas e proporcionadas, olhos azuis da
cor do mar do Portinho, cabelo ondulado louro da cor do trigo maduro das searas
do Alentejo.
A sua
segunda qualidade era não se levar a sério, nem a ele nem às dezenas de
mulheres que lhe faziam o cerco, sobre as quais dizia que só o queriam pelo
corpo e pela cara mas que ele não era homem objecto. Neste particular, dei-lhe
sempre razão, homens bonitos não prestam e para objectos belos eu já tinha
porcelanas, jóias, peças de ourivesaria que, ao contrário dum pedaço de carne,
sobrevivem bem à usura do tempo.
Na
noite em que, um pouco bebidos, dormimos juntos percebi que ser belo como uma
estátua grega não dá garantia de competências para aquela particular função.
Não me importei, o meu desígnio era outro e já estava traçado há muito.
Engravidei, logo de gémeos. A quem quis ouvir (mas não havia quem), declarei
que se tratava de ovulação dupla por cessação de estrogénios (vulgo pílula) e
proclamei que iam ser lindos como o pai, louros de olhos azuis. Ao meu Adónis
particular garanti que dele só queria o nome no registo, nada mais.
No dia
do parto, valeu-me a sua terceira e de longe melhor qualidade – o sentido de
humor com que encarou o irmão gémeo mulato do louro e de olhos azuis, o par que
me saiu na rifa da inseminação artificial…
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