Durante toda a sua vida adulta,
levantou-se duas horas antes de se deitar, de banho tomado e com o fato da
ginástica vestido, calçando os ténis cujos atacadores já estavam atados desde a
véspera, correndo em seguida os cinco quilómetros que separavam o quarto da
pensão onde vivia do local de trabalho, trabalhou trinta e seis horas por dia,
recomeçando o processo a cada subsequente aurora ou ocaso.
Quis o acaso que no ocaso da vida
tenha tido uma epifania e em vez de fazer a retrospectiva da vida que não
vivera, percebeu, só então, que nunca tinha chegado a nascer e tudo não passara
duma ilusão. Quando fechou os olhos, sem banho tomado e nu, acreditou que iria
finalmente descansar em paz e para sempre, o que efectivamente não aconteceu,
pois como ninguém se dignou a dar-lhe uma última morada, a Autoridade
Tributária, continuou a mandar-lhe notificações de relaxe fiscal para o
domicílio da pensão…
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