Há precisamente 40 anos, quando o mundo estava dividido em dois blocos, as duas superpotências escalavam a corrida ao armamento, a guerra das estrelas era o programa nuclear dos EUA, não o filme de George Lucas, deste lado da Europa gritava-se “better red than dead”, talvez porque não se soubesse o que era ser “vermelho”, talvez porque os comités a favor da paz eram fortemente financiados pelos “vermelhos”, tanto que só propugnavam o desarmamento unilateral do Ocidente, nunca contestando as ogivas nucleares soviéticas apontadas a alvos estratégicos ocidentais.
O
sindicato Solidariedade nasceu em 1980, nos estaleiros navais de Gdansk, espiritualmente
patrocinado pelo então Papa polaco, João Paulo II, e tendo como causa próxima o
aumento do custo de vida, fruto da conjugação do decréscimo de crescimento, da inflacção e do aumento da dívida externa polaca. Em Dezembro de 1981, depois de dois anos de muitas
greves e manifestações, a Polónia evita a invasão soviética decretando lei
marcial e suspendendo (os poucos) direitos que ainda havia, entre eles,
naturalmente, o direito à greve.
Cá
na terrinha governava Pinto Balsemão, chefe dum governo de coligação das
direitas de então, a inflacção e as taxas de juro eram estratosféricas, a balança
comercial estaria desequilibrada mas o endividamento não era problemático. Com
os patrocínios dos do costume, faziam-se greves gerais e enormes manifestações
contra tudo e mais alguma coisa, mas aqui, felizmente, sem tanques
na rua nem decretamento de lei marcial.
Quarenta
anos depois, os movimentos militares e crescente tensão na fronteira ucraniana,
a retirada de civis e diplomatas de Kiev, a até agora aparente tibieza da NATO,
são sinais preocupantes de que o mundo como o conhecemos (pré-Covid) pode estar
em perigo – perigo muito real, não só de segurança e integridade, mas também de
escassez e de restrições que nos farão ter saudades dos estados de emergência
em que aos fins de semana só podíamos ir às compras até às 13h mas nunca houve
falta de que comprar, sobretudo de comida, só falta de liberdade e excesso de restrições desproporcionais,
nunca justificadas. Por tudo o que aconteceu nestes dois últimos anos,
parece-me que, por estes lados, a escolha continuará a ser “rather red than
dead”, mas ninguém perguntou a opinião daqueles que foram “reds” por mais
de 40 anos e não ficaram fãs do regime - vá-se lá saber porquê -, sejam eles
ucranianos, polacos, estónios, letões ou lituanos.
Entretanto, no Canadá, existe um movimento denominado “Comboio da Liberdade”, formado por camionistas que só querem que os deixem trabalhar para poderem ter uma vida decente e recusam a prepotência autoritária daqueles que apenas sabem tomar decisões que afectam as vidas dos outros no anonimato dos gabinetes ministeriais, esquecendo que o Novo Mundo sempre foi uma terra de liberdade - liberdade religiosa, política, económica -, e, por isso mesmo, de oportunidades . As poucas notícias que cá chegaram pelos media da situação rapidamente os associaram a perigosos grupos extremistas da direita, apesar de, contrariando a “narrativa” oficial, não ter havido confrontos nem ameaças. O Primeiro-Ministro Justin Trudeau, que a seu favor tem o nome de família (que saudades da vida colorida de Margaret e Pierre Trudeau, nos idos de 70...) e uma carinha laroca, escondeu-se em parte incerta com a família, fazendo-se alvo de inexistentes ameaças para esconder a cobardia.
E
por falar em vidas e decisões, “As vidas dos outros” é um excelente filme
alemão, ambientado nos anos 80 na Alemanha dita democrática que os Justins do
mundo deveriam obrigatoriamente ver.
Se,
como parece, em diferentes locais da Terra diferentes povos fizeram coisas
muito semelhantes nos mesmos períodos temporais, o denominador comum às pessoas comuns foi, é e será
trabalhar para sobreviver, dar aos filhos vidas melhores do que as suas, e acautelar
o futuro incerto. Para isso, querem e precisam de ter liberdade de escolha nas suas
opções. Por isso às vezes se fazem greves, paralisando não poucas vezes a
demais actividade da sociedade e afectando as vidas de todos nós. É o preço a
pagar por se viver numa sociedade livre.
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