Vejo poucas séries mas quando gosto de alguma sigo-a, se preciso for, até ao inferno! A bem da verdade, desde há uns anos a esta parte que, com as caixas de gravações, a tarefa está facilitada e já não é preciso programar as saídas e jantares com a agenda televisiva à mão; o inferno, em contrapartida, só aparece quando a dita caixa entope e apaga filmes que eram imperdíveis (tão imperdíveis como os que tenho gravados e por ver desde o Verão de 2013…).
The Good Wife, cujo título equívoco e dúbio constitui, por si só, todo um manifesto, já vai na temporada 6 sem que por esse facto tenha perdido interesse ou lhe sobre “soap”.
A série alia a história pessoal da dita Good Wife (Alicia Florrick), uma licenciada em Direito que deixou a carreira para ser mulher de um advogado ambicioso e cheio de motivações políticas e mãe a tempo inteiro de um casalinho piroso (lá como cá, a única diferença é que cá as mulheres também têm carreiras a 100%…), que, aos 40 anos, teve que procurar emprego para sustentar a família, após a prisão do marido – à época Procurador-Geral - por “alegado” envolvimento numa rede de prostituição (qualquer semelhança com o Procurador-Geral de NY não será mera coincidência…), tendo sido admitida como associada num grande escritório de advogados de Chicago, que tinha como sócio um antigo colega de curso e namorado.
Está dado o mote para uma das melhores séries de advogados de sempre, de um realismo, actualidade e acutilância brutais.
A série começa quando ainda se sentem os efeitos da crise de 2008, a qual provocou despedimentos em massa na Firma, e na ressaca das eleições presidenciais que conduziram ao primeiro mandato de Barack Obama - sendo mais que muitas as “carinhosas” alusões à paladina da defesa de porte de arma, Sarah Palin, tratada como “A Barracuda”. O argumente transpira, aliás, um indisfarçável elitismo cosmopolita pró-democrata, liberal e chique, muito próprio de Chicago, NY e San Francisco, em que não se vê por que não se há-de conviver pacificamente (e delas viver…) com as guerras entre gigantes da INTERNET, que põem a nu a manipulação de informação e a intromissões na esfera privada, ou com as grandes acções – algumas delas colectivas – contra farmacêuticas ou seguradoras que evidenciam o muito poder económico desses conglomerados e as fragilidades do David-cidadão-comum perante os Golias-todo-poderosos. Mas, é preciso ser dito, a Firma faz trabalho pro bono, em que se defendem causas às vezes perdidas, nem sempre sexy e nunca lucrativas.
Neste emaranhado, Alicia Florrick tece o seu caminho para se afirmar como a excelente advogada que é, tendo ainda que fazer a diferença relativamente a associados jovens e sem constrangimentos familiares ou horários, isto se quiser garantir o ganha-pão e sustento da família estraçalhada pela conduta do Florrick pouco “bonus pater familias”.
Sexo e romance q.b., muito glamour - ah, como eu gostaria de calçar o meu pezinho 36 naqueles sapatos com saltos estratosféricos e pisar com aquela adorável elegância as alcatifas (não tão) fofas em que caminho todos o dias, e colar ao meu corpo aquelas fatiotas janotas, uma por cada dia do mês, e enfeitar-me com os acessórios dramáticos de Ms. Lockart, a sócia principal da Firma, dona de um gosto impecável e de um guarda-roupa a condizer! – coroam as excelentes interpretações em que pontifica ainda Michael J. Fox, cuja doença degenerativa é integrada no guião em benefício deste.
Nesta temporada, Cary Agos, sócio da recém-criada Florrick & Agos, é preso no primeiro episódio. A acusação? Tráfico de droga…
A coisa promete…
Espero que cumpra!

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