Saí do Hospital de S. João e dirigi-me à paragem do METRO, que ali funciona ao ar livre, sendo o cais paralelo à Estrada da Circunvalação. A tarde estava horrorosa – um vendaval de chuva batida a vento, uma neblina inglesa que nos gelava os ossos até ao tutano e congelava a gelatina que lá pudesse haver, com óbvias e péssimas consequências ao nível das articulações. Ah, e claro, do humor, o qual, como seria de calcular, estava urbano-depressivo, em tons de cinza chumbo.
Enquanto praguejava intimamente por ter perdido o combóio que acabava de sair da linha – e isto porque havia investido tempos infindos em busca de informações infrutíferas sobre o autocarro nº 300, cujo adjectivo deverá ser FANTASMA e não CIRCULAR, pois nem havia informações sobre o dito nem passou nenhum nos 20 minutos que durou a minha preambulação pela zona…(e aqui fica uma queixa para o mau serviço prestado pelos STCP à cidade do Porto) – quase tropecei num sem-abrigo deitado no cais. De imediato efabulei sobre o raio do sítio que o indivíduo arranjara para se abrigar, pois se havia sítio desabrigado, com o tempo que estava, era certamente aquele, só comparável, para pior, com a Estação do Oriente (mas como esta é do Calatrava, perdoa-se-lhe a falta de funcionalidade – e originalidade – em prol da estética…)
Adiante.
Meio segundo depois do sem-abrigo, um homem falava a meia voz, dizendo que ia chamar a polícia, ai ia ia… Olhei em redor para saber a quem se dirigia e descobri que estava mesmo a falar sozinho. Resolvi meter a colherada, ou não fosse eu uma mulher do Norte. E fiquei a saber que ele não admitia estas roubalheiras, as quais consistiam em estarem dois tipos a roubar fio de cobre dumas caixas no chão do cais da estação.
Torci os olhos para trás e verifiquei que o sem-abrigo não passava, afinal, de um ladrãozeco deitado no chão e meio metido dentro duma caixa no solo, sendo ajudado na difícil tarefa a que se dedicava por um outro indivíduo que estava de pé (a este custava-lhe, literalmente, vergar a mola…).
Não querendo dar nas vistas, tive, apesar disso, que virar um pouco o pescoço, pois os olhos ameaçavam fortemente saltarem das órbitas se continuasse a querer ver pela nuca.
Apercebi-me então que os dois tipos eram do mais fino escol da escumalha que pulula nas nossas cidades – encardidos pela sujidade e pelo vício, metiam medo ao susto.
Murmurei ao herói da honestidade que ligasse para o 112 e dissesse que era um caso de polícia. Ele assim fez.
Torci os olhos para trás e verifiquei que o sem-abrigo não passava, afinal, de um ladrãozeco deitado no chão e meio metido dentro duma caixa no solo, sendo ajudado na difícil tarefa a que se dedicava por um outro indivíduo que estava de pé (a este custava-lhe, literalmente, vergar a mola…).
Não querendo dar nas vistas, tive, apesar disso, que virar um pouco o pescoço, pois os olhos ameaçavam fortemente saltarem das órbitas se continuasse a querer ver pela nuca.
Apercebi-me então que os dois tipos eram do mais fino escol da escumalha que pulula nas nossas cidades – encardidos pela sujidade e pelo vício, metiam medo ao susto.
Murmurei ao herói da honestidade que ligasse para o 112 e dissesse que era um caso de polícia. Ele assim fez.
Entretanto, os dois parceiros atiraram o espólio para um saco e dirigiram-se para onde estávamos. Garanto que tive medo. Só pensava que, se isto fosse na América, me iam roubar a carteira e atirar-me para a linha do combóio ({#@&%}, e logo hoje, que trago comigo o ipad, pensei com os meus botões). Confortei-me pensando que isto não era a América e, apesar do medo, ainda tirei uma fotografia a um deles. Uma rapariga olhava para toda a cena assustada e eu só lhe disse “deixe-se estar aí”, e tentei juntar um grupo de pessoas que formasse uma parede contra aqueles dois.
Chegou o combóio. Quem estava no cais, incluindo os dois empreendedores do cobre, entraram. Estes últimos atiraram com o saco para debaixo de um banco e começaram a entrar e sair do combóio, num frenesim indicativo do estado em que se encontravam. Passou o condutor, contou-se-lhe e história, a pretexto de uns alegados cartões encontrados no combóio.
Estando um dos ladrões no combóio e outro fora, chega a polícia (teriam passado uns quatro minutos desde o telefonema).
Eram três agentes, vinham a correr e não eram nada meigos. Apanharam e juntaram os dois rufias – que nem esboçaram tentativa de fuga -, o saco com o cobre – que ambos se apressaram a negar ser de sua propriedade.
O combóio partiu, connosco ficou um agente para identificar o denunciante. Pela janela ainda vi o ar descoroçoado daqueles dois infelizes, que acabavam de perder o passe para a próxima dose…
O combóio partiu, connosco ficou um agente para identificar o denunciante. Pela janela ainda vi o ar descoroçoado daqueles dois infelizes, que acabavam de perder o passe para a próxima dose…

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