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sexta-feira, 25 de março de 2022

A MINHA PRIMEIRA MEMÓRIA

É a memória que não tenho mas que dizem que aconteceu, chegada a casa, vinda da maternidade, parece que olhei para os quatro cantos de todas e cada uma das paredes e sorri, sorri como quem estivesse a chegar duma viagem e encontrasse tudo no seu lugar. Só que, como nasci em casa, a minha mãe deve ter confundido com a minha primeira consulta na maternidade, devia ter sido de pediatria, houve um engano e foi, sim, uma consulta de pedo psiquiatria, o que não deixa de ser estranho porque, à época, ninguém em Portugal sabia o que era um pedo-psiquiatra, muito menos a minha mãe, que só sabe dizer que de todas as consultas de pediatria dos cinco filhos que teve, aquela foi a mais estranha – o médico não me mediu nem pesou nem apalpou a barriguinha nem viu outros sinais vitais, limitou-se a olhar para mim e dizer ã-ã, ã-ã, enquanto abanava a cabeça, no que parecia ser aprovação casada com empatia. Por isso nunca se soube nem o meu peso nem o meu tamanho  à nascença.

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