Páginas

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

KEEPING FAITH

Interpretações de cortar a respiração, história de cortar os pulsos, uma Fé que é uma força da natureza, imbuída da força telúrica daquelas paisagens, paisagens mais que perfeitas, em contraste absoluto com a perversão da gente tosca, gananciosa e sem princípios que as habita.

Se tudo está no passo certo e tudo acontece quando tem que acontecer, a perfeição superlativa está na banda sonora. A canção da personagem que dá nome à série arranca-nos a alma ao corpo, pendura-a num pelourinho emocional, exibindo os buracos negros, as chagas, as feridas por cicatrizar e as outras ainda a sangar, todas gritando ao mundo a nossa tristeza sem fim, a nossa dor de existir, mas sempre em busca de redenção, duma justificação para seguir o nosso caminho porque ficar não é opção.

I gave my heart, / And although it's lost, / It is still beating / And I gave my whole / Soul, I did

I gave my soul / And although I'm broken / I am still breathing.[1]

Assim como nunca seremos o que queremos ser porque verdadeiramente não queremos, também nunca poderemos amar quem amamos porque o amor é um sentimento estranho e desconhecido no nosso deserto emocional em que fingimos que nos corre sangue nas veias e não o gelo das tundras, fingimos que respiramos, sem querer ver que é o vento polar que nos invade suave e lentamente, entorpecendo e embotando sentidos e sentimentos...

'Cause I know I could never / Be what you need / Never see what you see / Never be anything more than Just somewhere to run to [2]

Se nem sempre foi assim e houve tempo em que, esfomeados, engolimos a vida como se não houvesse amanhã, em que o momento presente era tudo o que importava e iria estar ali sempre, cristal de rocha perene, resistente a temporais, furacões e vulcões, hoje seguimos em piloto automático, cintos de segurança sempre apertados para o caso de haver turbulância e poços de ar, com medo de arriscar...

Here I am once more / In the same familiar circumstance / Trying to make some sense of all the pain / Now here I go once more / Going round and round in this fairground / Holding on for dear life again [3]

Seguimos em frente, damos o passo que falta para chegar ao precipício. Por não sabermos fazer outra coisa, por hábito, por medo de sair dos carris, por que é melhor o diabo que conhecemos do que o anjo que não sabemos se, sequer, existe. Mortos que ainda respiram e falam, mas carregam rocha de granito, já não cristal, no lugar do coração.

Here I go, here I go, here I go again / And here I go, here I go, here I go again [4]

Ou então não é nada disso, é só a dor, a dor que nos consome e corrói, a dor que, qual cancro, tudo invadiu sem deixar espaço para nada mais, a dor nossa velha conhecida, a dor nossa velha amiga que nos protege de sermos magoados da vida, porque viver dói. E o que mais dói são as ausências que crescem na mesma medida do nosso envelhecimento. E termos que aprender a viver sem aqueles que amamos.

And we just got lost / Fell into something much deeper than us / Pain / Pain [5]



[1] Faith’s song - https://www.youtube.com/watch?v=7gzZEtiusO4

[2] Steve’s song - https://www.youtube.com/watch?v=Gun6Jsmf7WQ

[3] Here I go again - https://www.youtube.com/watch?v=tA4nKW6UMDQ

[4] Here I go again - https://www.youtube.com/watch?v=tA4nKW6UMDQ

[5] Pain - https://www.youtube.com/watch?v=bVYTsVTUAmQ

Sem comentários:

Enviar um comentário