Sabem quem morreu? A D. Quitéria, do terceiro esquerdo ali do vinte e cinco. Veio para cá viver há uns trinta anos, mais coisa menos coisa, na altura era uma trintona, a resvalar para os quarentas, radiosa, voluptuosa, mesmo, na rua todas as cabeças se voltavam à sua passagem, os olhos dos homens gulosos, os das mulheres assassinos. Não era segredo nenhum que não havia na Rua da Madalena adolescente que, acordado ou a dormir, com ela não sonhasse. Alguns, mais afoitos, cobravam a chave aos amigos para verem as vistas do estendal da roupa da Quitéria, na esperança, doce, de ter a felicidade de ver cuecas de renda, ligueiros, bodies e soutiens de seda – que era coisa que as mães deles não gastavam porque atavio de mulher de má vida e pior fama, eufemismo para puta. Pois nunca viram mais do que panos da loiça tristes e lençóis estampados de nenúfares uns, outros com as copas do baralho das cartas, o que a todos cortou a tusa. Nunca se lhe conheceu homem. Também com aqueles lençóis…
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