Dela diz-se, dizem as más línguas, de dentro e sobretudo de fora da tribo, que se tornou conhecida por, minutos depois da prisão doutro de dentro da tribo, lá ter aparecido como sua visita, na qualidade de sua namorada. O namorado estranhou, pois dela não guardava essa recordação, mas depois entranhou. Ainda segundo as más línguas, Cruella assim procedeu seguindo ordens da tribo para limpeza da imagem do putativo namorado, suspeito que era de crimes de pedofilia (tipo de crime descoberto por uma comunicação social ignorante, desconhecedora não só de que o sufixo filia – do grego – indicia doença ou obsessão como do Código Penal, disponível para leitura no Diário da República).
Pormenores.
Voltemos ao pormaior, ou seja a Cruella.
Fora
dos holofotes, qual formiga movendo-se nos carreiros da tribo, para trás e para
a frente, fazendo o que tem que ser feito, sempre segundo os ditames da tribo, foi
laboriosamente construindo uma carreira, começada muito cedo, por tradição
familiar, tanto que aos 22 anos já tinha assegurado um lugar num carreiro
dourado, onde, mais de um quarto de século depois, ainda pontifica.
Atingiu
a celebridade por alegadamente ter sido a artífice, estratega e autora moral e
escriba material de acordos da tribo com outras duas tribos, todas há muito
desavindas, e que permitiu guindar a sua ao estatuto de tribo-mor. A tradição
familiar faz com que membros da sua família se movam no círculo próximo do
chefe da tribo, com lugares e prebendas várias, numa endogamia de fazer inveja
a caracóis.
Içada
por fim à alcândora, verteu desilusão: fraca tribuna, pouco e pobre
vocabulário, repetição do modismo do momento, diz, repete e volta a repetir, frases
pomposas repletas de um vazio sem fim, opiniões não se lhe conhecem, só o
papaguear do catecismo oficial da tribo, com respeito visceral ao cânone vigente – ou seja, ao chefe -, o que é também notório em
conversas semanais com outros três estarolas, que fazem de conta debater as
opiniões diferentes que não têm, tudo para receber cachet a título de direitos
de autor, suprema ironia por ali não haver vislumbre de ideia ou pensamento
originais.
A não
ser que os ventos mudem, há-de ir longe. Aliás, parafraseando outro da tribo,
bronco mas muito sabido, todos os do seu clã hádem ir. No pequeno mundo
em que vivem e se movem, longe será vir para Lisboa, viver na corte e dela
recolher benesses, e vir de carro marca alemã topo de gama, com motorista, já é
ir mais longe do que simplesmente apanhar o cacilheiro que separa as duas margens.
Alcunhei-a
de Cruella porque sempre que a vejo, para além do arrepio de frio que me
provocam a fácies, seca e dura, os lábios finos e apertados, o cabelo preto
sempre esticado e colado ao rosto, a cara de má, de maus fígados, piores
digestões e muita prisão de ventre, a imagino a matar dálmatas para lhes vestir
a pele, que é o que metaforicamente faz, sendo os dálmatas todos os que não são
da tribo, ou seja, nós.
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