Páginas

sexta-feira, 15 de maio de 2015

A SURREALIDADE DO REAL



Cruzeiro Seixas
O líder do principal partido da oposição enviou sms a jornalista do Expresso em que afirma que “essa profissão respeitável (jornalista) é degradada por desqualificados, incapazes de terem uma opinião e discutirem as dos outros, que têm de recorrer ao insulto reles e cobarde para preencher as colunas que lhes estão reservadas.”
Posteriormente, o líder do principal partido da oposição qualificou a polémica do sms como “não-assunto”.
O assunto que não existe é o sms propriamente dito ou a polémica à volta do mesmo?! Interessante matéria, sobretudo porque o não-assunto ocorre pouco depois da cenaça que o líder do principal partido da oposição encenou com a jornalista que lhe “saiu de trás do carro para lhe fazer perguntas.
Tratou-se, com toda a certeza, de uma não-cena

Na biografia do Primeiro-Ministro, afirma-se que o Sr. Vice-Primeiro, à data apenas titular da Pasta das Necessidades, se demitiu, irrevogavelmente – e certamente por muita necessidade -, por sms, no dia 2 de Julho de 2013.
O Sr. Vice-Primeiro não nega o sms mas afirma que confirmou a demissão por carta.
Não havia dúvidas de que o Sr. Vice-Primeiro soubesse bem os protocolos de Estado e como tomar o chá das cinco, assim como dúvidas não havia de que é propenso a birras e birrinhas, amúos e afins, algo que se dispensaria com agrado em alguém com o seu estatuto e que já dobrou a década dos cinquenta. Por esse motivo, ter-lhe-iamos ficado eternamente gratos se não tivesse encenado a birra que o possuiu naquele Verão de 2013, apesar de (ou sobretudo porque…) a irrevogabilidade da demissão apenas durou um par de horas e terminou quando lhe deram uma chupeta chamada Vice-Presidência do Conselho de Ministros. Tratou-se, neste caso, de uma não-irrevogabilidade

Voltando à biografia, senhores, porque não vos calais?! Acaso não sabeis que o silêncio é de outro e que a palavra, sendo embora de prata, às vezes mata? Estas, como outras, coisas guardam-se para revelar a coberto da inimputabilidade dos oitenta anos de que só alguns se podem arrogar e prevalecer – normalmente aqueles que são tudo menos inimputáveis (simplesmente maldosos e vingativos) mas têm mundo, o que quer que isso seja. Não poderia, pois, o Sr. Primeiro-Ministro ter-se abstido e, em consequência, ter-nos poupado a nós, da cenaça ridícula de promover uma biografia sobre a sua figura de Estado – a qual ficará, assim, crismada para todo o devir como uma triste figura - ou muito mais provavelmente, como uma não-figura...

Nas cenas dos capítulos seguintes, o Presidente da República ameaça com relevações sobre aquele quente mês de Julho, mas só quando sair de Belém.
Para este efeito, desejo ardentemente que o Presidente saia de Belém e se cale para todo o sempre, ou perca a memória ou emigre para a Vivenda Mariani e dela não saia nos próximos cinquenta anos, ou - preferencialmente - tudo em simultâneo, porque brincar aos inimputáveis é só para alguns, nos quais ele não se inclui. Estou-me nas tintas para que o Presidente não saiba falar, cuspa perdigotos e tenha sotaque algarvie, só serão crimes de lesa presidência para aqueles que acham que certos cargos só podem ser ocupados por pessoas com mundo, mundo este que se adquire com vidas longas em que se lê e viaja muito e se trabalha pouco, e ao qual um filho dum gasolineiro de Boliqueime que gosta de ler livros da Agatha Christie nunca pode(ria) ascender… Mas já não me estou nas tintas para que o Presidente da República alimente uma polémica espúria e estéril e da qual, mais uma vez, sairá pela porta dos fundos.

Por último, a cereja em cima do bolo: um representante do Sindicato dos Pilotos da TAP afirma que, apesar do ambiente hostil, a greve dos pilotos, a que aderiram apenas 30% dos mesmos, conseguiu infligir à TAP (leia-se, aos contribuintes portugueses) um prejuízo de 35 milhões de euros. É mau de mais para ser verdade e sinto-me legitimada para concluir que o representante em questão atingiu um estado de inimputabilidade perigosa que recomenda a tomada de medidas de segurança – como por exemplo, irradiá-lo da profissão. Pela minha parte, tenciono não voar na TAP enquanto este estado de coisas não mudar. Se não houver alternativas, não vou, até porque o preço dos bilhetes será sempre demasiado caro – as minhas opções serão, por esta ordem: primeiro low-cost, segundo qualquer companhia de bandeira e que me mereça confiança, na qual a TAP não se inclui.

Com tanta falta de vergonha na cara e de sentido de Estado, o estado em que me sinto é o de uma profunda depressão ataráxica – tanta, que só consigo conjugar o verbo “fugir daqui para fora” no tempo futuro (imediato), ao constatar que quem tem as mais soberanas obrigações do País não obedece ao pedido colectivo que o Povo lhes faz quando, em modo imperativo, conjuga o verbo "calar" ...

Sem comentários:

Enviar um comentário