Deu-me hoje a vianeta para falar um bocadinho do que tem sido a evolução para pior da arte de comunicar, em geral, e especificamente da arte de escrever e de falar.
Complicado de entender? Vou tentar explicar em três linhas como se de um sumário executivo se tratasse.
Derivado ao facto de se terem perdidos hábitos de leitura, por ser convicção generalizada que a leitura não faz falta a ninguém, perdeu-se vocabulário e inventa-se muito outro. Recorre-se a chavões e muletas que não significam rigorosamente nada.
Derivado ao facto de se terem perdidos hábitos de leitura, por ser convicção generalizada que a leitura não faz falta a ninguém, perdeu-se vocabulário e inventa-se muito outro. Recorre-se a chavões e muletas que não significam rigorosamente nada.
Já nem falo dos orçamentos que passaram a budgets, da redacção de documentos que passou a wording, do cumprimento dos prazos ou calendários que passaram a timings, ou do marketing, do vending, dos call-centres (ou centers, à americana). Ou das lojas e das compras semanais que passaram a shopping (também pronunciado chóping ou chopingue). Ou de como deixamos de ter desejos para passar a ter wishful thinkings. É tudo muito giro e modernaço mas, acima de tudo, um bocado ridículo.
O pior de tudo são os pontapés na gramática que para mim são verdadeiros pontapés nos ouvidos:
- os «póssamos, fáçamos, estêjamos»;
- os «tivestes, fizestes, fostes»;
- os «tivestes, fizestes, fostes»;
- os «dizemos a eles o que hadem fazer»;
- os «gostamos de estar com vocês» mas já não gostamos de estar convosco – ou se gostamos não o dizemos…
- e que tal a declaração de que «amo muito você» - pois se nos tratássemos por tu, diríamos amo muito tu...
Isto para não falar da péssima vocalização e pior ortografia, o que leva a tefonar para dar os parabéns a alguém, por ter celebrado um Contrato de Cessão quando queria fazer cessar um contrato (e não cedê-lo…), por via da detioração do objectivo desse mesmo título jurídico as mais das vezes escrito como Contracto… (o «aborto ortográfico» obriga-nos a elaborar atas de reuniões em que se sumarizam o conteúdo dos contractos …).
Há também o efeito imitação – conheci há uns anos um homem com cargo de gestão intermédio, bastante competente no que fazia mas que era básico (tão básico que as intensões eram sempre as primeiras, nunca havia espaço para segundas…) e a linguagem reflectia-o. Ora ele não podia fazer tudo o que chefe queria porque não tinha o dom da umbiquidade… Mas é que não tinha ele nem, durante os meses que durou o encantamento com a novidade da palavra, nenhum dos seus colaboradores…
E todos nos lembramos do célebre "penso de que", imortalizado por um certo Papa do Norte.
E todos nos lembramos do célebre "penso de que", imortalizado por um certo Papa do Norte.
Quanto a mim, tendo sumarizado assim um bocadinho a problemática, vou ali à máquina dispensadora comprar uma sandes (a máquina é dispensadora porque nos dispensa da deslocação à confeitaria) e a seguir vou à bomba meter gasóil no equipamento destinado à dispensa de combustível - era bom era que este me dispensasse (ou, tamém como leio amiúde, dispensa-se...) de pagar o preço no final, porque ando com um grande enfoque nos savings….
E, a seguir, vou reler Os Maias, e deliciar-me com o "chique a valer" do nosso conhecido Dâmaso Salcedo, o qual se deve ter reproduzido como o Papa Francisco não recomenda, atentos os peralvilhos falantes que por aqui pululam...
Estão abertas as hostilidades deste blogue, cujo enfoque será o meu olhar sobre mim e sobre o que me rodeia. As mais das vezes será um olhar ácido...
E, a seguir, vou reler Os Maias, e deliciar-me com o "chique a valer" do nosso conhecido Dâmaso Salcedo, o qual se deve ter reproduzido como o Papa Francisco não recomenda, atentos os peralvilhos falantes que por aqui pululam...
Estão abertas as hostilidades deste blogue, cujo enfoque será o meu olhar sobre mim e sobre o que me rodeia. As mais das vezes será um olhar ácido...
Parabéns por esta nova casa que tivestes o gosto de criar! Derivado ao facto de por aqui ter passado, não poderia deixar de registar votos de saudinha para a autora! Boas escrituras!
ResponderEliminarQuerida PTC, hádes ver que depois de um briefing com o inner circle do teu staff, quer-se dizer, mesmo do core, hádem vir charters de comentários, alguns muito under rated, outros a modos que exquis, tudo dependendo da maneira como os setbacks da tua narrativa fôrem controlados, porque implementar um cenário disruptivo não é para um qualquer excel, e prognósticos só no fim do jogo...! Vai em frente, o povo é sereno, os teus boys e girls parabenizam-te num get together que vai deixar a muvuca da pink street numa depré de loosers arrastando os low profiles...!
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