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quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

PRESIDENCIAIS 86 - TRINTA ANOS DEPOIS



Sigo atentamente as eleições desde 1975 muito antes de ter atingido a maioridade eleitoral.
Votei quase sempre.
Não votei algumas vezes porque estava fora do meu círculo eleitoral (o que me leva a questionar porque é que não se pode votar electronicamente e as limitações ao voto antecipado), muito embora vezes houve em que me desloquei para o antigo círc ulo eleitoral enquanto o processo de alteração de residência para esses efeitos não estava concluído, pelo que posso dizer que quando não votei – geralmente eleições europeias – não estava especialmente motivada para o efeito.
Lembro-me de todas as eleições presidenciais desde 1976.
Votei pela primeira vez nas Presidenciais de 1986, há trinta anos portanto, e desde então votei sempre - cinco vezes convictamente, o que inclui as três vezes em que me limitei a inutilizar os boletins de voto, e duas vezes votando e contribuindo para eleger o mal menor.
No conjunto das nove eleições Presidenciais havidas desde o 25 de Abril (considerando já as eleições deste ano), as de 1986 foram as mais disputadas (duas voltas, 4 belíssimos candidatos, todos eles animais políticos ferozes – mas à séria, nada de cursos tirados ao domingo nem filosofia de pacotilha – e com provas de vida dadas na sociedade civil), as mais fracturantes (a quebra irremediável da amizade entre Soares e Zenha, ambos fundadores do PS, ambos candidatos), mesmo considerando a fractura Soares/PS pelo apoio dado pelo Partido a Eanes em 1980, à revelia de Soares, as mais polarizadoras e as últimas em que verdadeiramente se discutiram ideias e ideologia.
A campanha foi precedida de um conjunto notável de debates, realizados na única televisão então existente e conduzidos por dois animais ferozes da entrevista política – Miguel Sousa Tavares e Margarida Marante. Os debates eram tensos e muitas vezes crispados mas nunca houve falta de educação nem arrogância. Basta procura-los no Youtube e fazer as comparações com a miséria que por aí vai.
Tenho muitas saudades do tempo político de 1986 – saudades ampliadas pelas saudades que tenho do meu tempo de então - porque há 30 anos não havia medo de afirmar convicções ideológicas e creio que depois de 1986 o tempo das ideologias acabou.
Vieram os fundos europeus e sabe-se no que deu a política do Centrão.
E se Freitas do Amaral tivesse ganho as Presidenciais de 1986?
Acho que, tal como Soares, também teria feito a vida negra a Cavaco no 2.º mandato mas talvez não tivesse sido Ministro de Sócrates porque este não teria emergido, animal feroz ou não.

Seria bom poder regressar ao passado e rever o filme deste últimos 30 anos e pensar seriamente o que queremos para Portugal como sociedade, para cada um de nós individualmente e como articulamos uma coisa com a outra.

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