Sigo atentamente as eleições desde 1975 muito antes de
ter atingido a maioridade eleitoral.
Votei quase sempre.
Não votei algumas vezes porque estava fora do meu círculo
eleitoral (o que me leva a questionar
porque é que não se pode votar electronicamente e as limitações ao voto
antecipado), muito embora vezes houve em que me desloquei para o antigo
círc ulo eleitoral enquanto o processo de alteração de residência para esses
efeitos não estava concluído, pelo que posso dizer que quando não votei –
geralmente eleições europeias – não estava especialmente motivada para o efeito.
Lembro-me de todas as eleições presidenciais desde 1976.
Votei pela primeira vez nas Presidenciais de 1986, há
trinta anos portanto, e desde então votei sempre - cinco vezes convictamente, o
que inclui as três vezes em que me limitei a inutilizar os boletins de voto, e
duas vezes votando e contribuindo para eleger o mal menor.
No conjunto das nove eleições Presidenciais havidas desde
o 25 de Abril (considerando já as eleições deste ano), as de 1986 foram as mais
disputadas (duas voltas, 4 belíssimos
candidatos, todos eles animais políticos ferozes – mas à séria, nada de cursos
tirados ao domingo nem filosofia de pacotilha – e com provas de vida dadas na
sociedade civil), as mais fracturantes (a
quebra irremediável da amizade entre Soares e Zenha, ambos fundadores do PS,
ambos candidatos), mesmo considerando a fractura Soares/PS pelo apoio dado
pelo Partido a Eanes em 1980, à revelia de Soares, as mais polarizadoras e as
últimas em que verdadeiramente se discutiram ideias e ideologia.
A campanha foi precedida de um conjunto notável de
debates, realizados na única televisão então existente e conduzidos por dois animais
ferozes da entrevista política – Miguel Sousa Tavares e Margarida Marante. Os
debates eram tensos e muitas vezes crispados mas nunca houve falta de educação
nem arrogância. Basta procura-los no Youtube e fazer as comparações com a
miséria que por aí vai.
Tenho muitas saudades do tempo político de 1986 – saudades
ampliadas pelas saudades que tenho do meu tempo de então - porque há 30 anos
não havia medo de afirmar convicções ideológicas e creio que depois de 1986 o
tempo das ideologias acabou.
Vieram os fundos europeus e sabe-se no que deu a política
do Centrão.
E se Freitas do Amaral tivesse ganho as Presidenciais de
1986?
Acho que, tal como Soares, também teria feito a vida
negra a Cavaco no 2.º mandato mas talvez não tivesse sido Ministro de Sócrates
porque este não teria emergido, animal feroz ou não.
Seria bom poder regressar ao passado e rever o filme
deste últimos 30 anos e pensar seriamente o que queremos para Portugal como
sociedade, para cada um de nós individualmente e como articulamos uma coisa com
a outra.
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